domingo, 14 de março de 2010

O PRIMEIRO VIAGRA A GENTE NÃO ESQUECE.

O PRIMEIRO VIAGRA A GENTE NÃO ESQUECE.
>
> Foi desastroso.
>
> Minha performance sexual tinha caído muito. Nem
> tanto pela idade, mas pelas dificuldades de
> relacionamento matrimonial somado a inúmeros
> problemas pelos quais eu passava.
>
> Semana passada, resolvi comprar o tal do Viagra.
> Mas que vergonha de ir comprar o medicamento.
> Reconhecer publicamente que tava brochando.
> Vergonha. Desgraça.
> Mas eu queria experimentar.
> Mas ninguém poderia saber. Ninguém.
> Mas como fazer com o farmacêutico?
> Alguém iria saber. No mínimo uma pessoa. No mínimo,
> não. Uma só pessoa. O farmacêutico. Afinal eu não
> fabrico o fármaco.
>
> Onde ir comprar? Será que em outra cidade, onde
> ninguém me conhcesse? Isso seria o ideal. Mas eu
> estava sem nenhuma viagem agendada.
> Teria que ser na minha cidade.
> Mas claro que numa farmácia em bairro que
> absolutamente ninguém me Conhecesse.
> Por alguns dias fiquei imaginando uma farmácia
> "ideal".
> Foi difícil imaginar.
> Enfim, descolei uma. Por sinal , Farmácia Ideal
> Restava agora escolher o perfil do vendedor.
> Uma vendedora seria melhor. Não. Nem pensar. Eu não
> iria entregar os pontos confirmando que tava em
> baixa. Não.
> Um homem, então. Dedução lógica. Mas reconhecer pra
> um concorrente que eu tinha abdicado das funções?
> Desgraça.
>
> As duas opções eram ruins.
> Parecia que o atendimento pelo homem era menos
> traumático.
> Se tivesse um vendedor de uns 70 anos seria o ideal.
> Ele já conhecia o problema. Se ele fosse discreto ,
> melhor ainda. Seria como ir comprar um medicamento
> pra alergia e chegar lá o vendedor ser alérgico. O
> cara conhece tudo.
> Já pensou comprar de um garotão:
> -Ta aqui o levanta morto, tio.
> Não.
> Mas onde achar o bom velhinho vendedor de Viagra?
> Escolhida a farmácia, cheguei lá, durante a manhã,
> quando teria menos movimento.
> Que nada. Várias pessoas na farmácia.
> Será que entro?
> Entrei.
> Veio uma gatona me atender.
> -Pois não, me disse.
> -Estou vendo uns sabonetes, respondi.
> E fiquei circulando na farmácia, envergonhado,
> cabeça baixa procurando o bom velhinho. E cadê o
> homem? Não existia.
>
> Continuei circulando. Uma outra senhora balconista.
> Não. Não servia. Mulher não.
> Um garotão terminava uma venda. Também não. Tinha
> um cara de uns quarenta anos. Parecia o indicado.
> Fui até ele. Quando eu chegava ao balcão, chega uma
> senhora de uns quarenta anos e me diz a queima
> roupa:
>
> -Pois não, senhor.
> Pô, a palavra "senhor" já pressupunha que sou
> velho. Diabo.
> E agora? Pedia ou não?
> Comecei pedindo um AAS adulto, que sempre preciso
> em casa.
> Ela trouxe o AAS. Bem discreta. E agora? Pedia ou
> não?
> Pedi um Pepsamar, que uso sempre.
> Ela trouxe o Pepsamar. Discretamente.
> Puta merda. Pedia ou não?
> Me encorajei, enchi o pulmão de ar e com uma voz
> sussurrada, como que vindo do fundo de um túmulo,
> sussurrei:
> -Ah....e um Viagra. O Ah era pra dar idéia que
> tinha me lembrado naquele momento. Que original.
> Senti que vermelhei.
> A balconista me olhou. Levantou a sobrancelha. Só a
> esquerda.
> Esquerda de quem olha.
> Me olhou como quem diz....-brochando véio?
>
> Eu não sabia se olhava pra ela ou pro chão.
> Os minutos não passavam. Digo, os segundos não
> passavam.
> E a balconista me olhando como a dizer:
> -velho safado, ainda quer foder, é?
> Que aflição. Mas a sorte já estava lançada.
> Não é que nesse momento , olho ao lado e vejo um
> amigo meu, médico, acompanhado da esposa. Gente
> conservadora. Evangélicos.
> Me abraçaram efusivamente. Me pegaram com a boca na
> botija. Maior fragla. Eu tava fodido.
> -Tá doente? Me disse o médico.
> -Não, só umas aspirinas, respondi.
> Eu suava inteiro.
> E eles não saiam dali. Que merda. Atrapalhando a
> compra do meu Viagra. Que desgraça. Se o tempo
> voltasse , eu não entraria naquela farmácia. Nunca
> mais.
> E a balconista nos olhando com aquela cara de
> vitoriosa. Diaba.
> E um outro balconista ao lado, olhando como se
> soubesse de tudo e também como se não soubesse de
> nada. Eu já nem sabia o que cada um
> sabia.
> Nisso, a balconista berrou pro outro balconista:
> -Já chegou o Viagra? Ontem não tinha.
> Acho que a farmácia inteira escutou. Eu queria
> chorar. De raiva.
> Uma semana depois ainda ressoa na minha cabeça a
> frase "Já chegou o Viagra?" "Já chegou o Viagra?"
> O balconista me olha e diz.
> -Temos um similar, que é como se fosse um Viagra
> Turbo.
> Viagra turbo. Puta merda.
> A mulher do meu amigo, que tava na farmáica, ficou
> vermelha.
> Também, acho que faz alguns anos que não transam.
> Empurrou meu amigo e me disseram:
> -Até já.
> A coisa não podia estar pior.
> Daí o segundo vendedor me diz, bem alto
> -nunca usou esse similar do Viagra? É o bicho.
> Um pouco mais caro mas o efeito é de 36 horas.
> Como se eu fosse um garoto de programa, que
> precisasse de desempenho total.
> Eu achei que fosse desmaiar de tanto mal estar.
> Deixe quieto, eu falei.
> -Não, não, disse a vendedora
> E gritou pra um vendedor do final do balcão:
> -Tem Viagra ou não, Jair.
> -Pra quem que é o Viagra, diz o Jair? Será que
> tinham que pronunciar a palavra Viagra sempre?
> -Pra esse senhor aqui, Jair, diz a diaba. E aponta
> com a cabeça em minha direção. E que outra direção
> poderia ser?
> -O senhor chegue aqui, diz o Jair.
> E a mulher do meu amigo médico, ali por perto, como
> se não tivesse escutando nada, mas acompanhando
> tudo. Aquela cadela. Azar é pra
> quem tem. Acredito que ela ali da farmácia, via
> celular, já fazia a notícia circular no bairro: o
> Dico não fode mais.
> -Fui até o Jair, como o maior pecador chegando até
> São Pedro, o que faz os julgamentos na entrada do
> céu.
> O Jair lazarento me olhou como quem diz.... Muito
> bem, seu broxa.
> -O senhor quer embalagem com quantos?
> -Com quantos tiver.......sussurei, meio gaguejando.
> Eu queria é ir embora. Que o chão se abrisse. Nem
> que eu não fodesse nunca mais.
> Se eu tivesse imaginado o pior, não seria tão ruim
> quanto foi.
> Peguei o Viagra com o Jair lazarento e voltei até a
> diaba.
> -Que bom que tinha, diz a diaba. Como se eu fosse
> transar com ela.
> Aquela bruxa. Eu ia precisar da cartela inteira com
> ela. Aliás nem com a cartela inteira.
> Peguei a nota e saí em direção ao caixa.
> E o médico meu amigo, grita:
> -Até mais, Dico.
> A mulher dele não levantou a cabeça, continuou
> olhando uns sabonetes. Mas pensando no Viagra.
> Aquela veia.
> Que tragédia.
> Mas o medicamento foi o bicho. Sem dúvida.
> Uma semana depois vi que eu tinha feito uma
> besteira. Eu tinha que ter comprado várias cartelas.
> Agora eu tinha que recomeçar tudo. E por onde?
> Voltar lá com a diaba e com o Jair lazarento?
> Nunca.
> Mas por outro lado, eles já me conheciam. Seria
> como que um segredo profissional. Melhor do que ir
> em outra farmácia e a notícia se alastrar.
> É, tive que começar tudo de novo.
> Hoje pela manhã voltei na farmácia do Jair lazarento
> e da Diaba, a
> Farmácia Ideal. Ideal o cacete.
> Puto da vida.
> Não é que quando chego lá no balcão dos fundos, vem
> aquela puta da esposa do meu amigo médico, (tavam lá
> de novo) me olha e antes de me dar bom dia, me diz:
> -Virou fregueis, é ? E deu uma gargalhadinha, com
> sorriso de hiena.
> Cadela. Vagagunda. Feia. Véia. Vó. Miss Inferno.
> Fiquei vermelho, olhei pro balcão e vi o Jair
> Lazarento e a Diaba.
> Essa, meio que sorrindo, como quem diz:
> - o Brocha voltou. Gostou da festa.
> Filho das puta.
> Nem vou contar o resto.
Ta rindo do que, vc vai chegar lá.

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